sexta-feira, janeiro 26, 2007

Entrevista com Cristina Schumacher, Professora e Consultora de Idiomas


Quase todo dia você ouve alguém acender o sinal vermelho. Falar inglês é fundamental, sem ele ninguém vai conseguir boas oportunidades profissionais, etc. É um drama.

Agora, uma notícia confortadora: é possível aprender inglês sem sofrer, respeitando cultura, potencialidades e, especialmente, a necessidade de cada um. Para espanto dos puristas, admite-se até cometer erros formais, desde que você se comunique. Quem prega o advento do "inglês possível" é a professora e consultora Cristina Schumacher, também fluente em alemão, francês, espanhol e japonês. Autora dos livros "Inglês Urgente para Brasileiros: Soluções Simples e Práticas" e "Alemão Urgente para Brasileiros: Soluções simples e rápidas para aprender de vez", Cristina sugere que se desmistifique o inglês e alerta: duvide da escola que fizer promessas milagrosas.

Amanhã - Por que é urgente para o brasileiro estudar inglês?
Cristina - Porque a globalização acontece no inglês, e quem não tem condições de usar essa ferramenta de comunicação é excluído do processo, fica marginal, assistindo.

Amanhã - Por que o inglês se tornou o idioma da globalização?
Cristina - O que acontece com o inglês é semelhante ao que aconteceu com o latim na época do Império Romano ou com o francês no século passado. A língua mais falada pela maior parte das pessoas num determinado momento do mundo reflete a cultura e a hegemonia de cada época. Hoje, os Estados Unidos fazem as regras do jogo, do ponto de vista econômico, cultural. Era somente no Ocidente, agora é quase em todo o mundo.

Amanhã- A difusão do inglês pelo mundo se explica apenas pela hegemonia americana?
Cristina - Eu não faria essa dedução tão simples. Existem outros fatores. A Inglaterra teve um papel parecido com o dos Estados Unidos. Foram dois golpes sucessivos de culturas que usam essa língua. A língua vem na esteira de outros movimentos de cunho econômico, social, cultural. E, ao contrário do que se possa pensar, o inglês é muito flexível. Pessoas de diferentes culturas usam inglês para se comunicar. Essa é a grande flexibilização: o uso de uma forma que não tem as exigências do falante nativo, do inglês, do americano. O inglês é a língua da globalização porque é a língua falada por estas culturas, estes dois povos, o inglês e depois o americano, que ocuparam uma posição de proeminência econômica. É o capitalismo, que tem o seu maior exemplo na famosa terra de oportunidades que são os Estados Unidos.

Amanhã- O inglês carrega esta visão da terra de oportunidades? Simboliza os Estados Unidos?
Cristina - Não perdemos em desvincular uma coisa da outra. A partir do momento em que a língua inglesa ganha status de ferramenta de comunicação internacional, ela não precisa ficar vinculada à sua cultura de origem porque não é falada com aquela complexidade e não se reveste da mesma formalidade. Se eu falar com um russo, vou conversar em inglês com ele. Se um alemão se encontrar com um japonês, vai falar em inglês. E esse inglês será muito simples do ponto de vista estrutural. A questão é esta: tenho a minha a cultura, não preciso passar por cima dela para estar capacitada a usar outra língua. Há uma expectativa, principalmente entre professores, de buscar a pronúncia correta, a estrutura perfeita. Isso é louvável. Por outro lado, culturalmente, jamais vou conseguir apagar o meu passado, o meu entorno, a minha leitura da realidade - a realidade brasileira. Isso aparece quando eu falo, independentemente da língua que use. Ou nos dedicamos de corpo e alma a nos embebedar de uma outra cultura... Mas parece que não é esse o desejo das pessoas que estão aí trabalhando, tentando ganhar espaço. Elas querem saber inglês para se comunicar, não para se vestir com a bandeira dos Estados Unidos. Há diferença entre estudar a língua com a intenção de se envolver naquela cultura ou com um fim utilitário.

Amanhã- E você prefere essa visão pragmática, por assim dizer?
Cristina - Prefiro, por ser mais realista. Com essa perspectiva, posso aceitar imperfeições que se impõem pela condição das pessoas: pouco tempo, pouca inclinação. Todo o mundo acha que tem de aprender com a excelência do professor ou do falante nativo, mas isso não é necessário.

Amanhã- Qual é a origem da vinculação cultural que se faz entre o inglês e o american way?
Cristina - É um processo natural, é a língua de origem dessas culturas. Mas eu posso intervir. Não tenho compromisso cultural com ninguém a não ser comigo mesma. É normal que leve a minha bagagem aonde quer que vá e, em função da minha condição de aprendizagem, flexibilize a exigência de espelhar o falante nativo no processo. Falar errado é melhor do que ficar quieto.

Amanhã- O que diferencia o inglês utilitário do inglês formal?
Cristina - Essa separação se realiza naturalmente. Tenho níveis de correção que posso obter, independentemente do processo que sigo. Há pessoas que se dedicam ao processo tradicional, têm nível de correção mediano e não conseguem ir além em função da aptidão e do tempo de dedicação. Quando se usa o falante nativo como referência, espera-se que se espelhe sempre nele. O que defendo é tornar aceitáveis os erros; eles já acontecem. O importante é compreender e ser compreendido.

Amanhã- Dê exemplos de aplicações do idioma em que esse nível de tolerância possa ser mais largo.
Cristina - O gerente de manutenção precisa entrar em contato com o fornecedor que, casualmente, é alemão. Os dois têm que falar sobre o equipamento. Vai fazer diferença usar ou não o verbo auxiliar do passado para fazer a minha pergunta? Mesmo sem o verbo auxiliar, a outra pessoa vai entender. Por outro lado, se fizer uma palestra para uma comunidade científica, é desejável que o meu padrão vocabular e de pronúncia esteja num nível em que não gere estranheza. A escolha de linguagem espelha uma situação cultural. O xis da questão é encontrar o ponto de flexibilização, entender que, em certos casos, alguns erros nem devem ser corrigidos, sob pena de gerar desistências.

Amanhã- O que perde um empresário que busca negócios nos Estados Unidos e não domina o idioma ou fala num nível primário?
Cristina - Depende da colaboração do interlocutor. A língua é importante porque possibilita a comunicação, mas interação conta tanto quanto isso. Já observei pessoas que falam pouco ou mal e conseguem se comunicar bem. O que ele perde? Se for um excelente negociador, talvez nada perca. Se for mau negociador, talvez não adiante falar um excelente inglês.

Amanhã- Um profissional de 40 anos nunca pensou que precisasse usar o inglês. Sua empresa é vendida a uma organização norte-americana e, de repente, ele se vê obrigado a aprender. Como fazê-lo sem traumas?
Cristina - Com um casamento entre necessidades comunicativas, capacidades e objetivos de aprendizagem. Uma pessoa de 40 anos vai buscar ajuda de um profissional que entenda as suas peculiaridades, sua individualidade, e traga isso para o processo. Com relação a aprender rápido, duvide de promessas. Ninguém pode dizer que você vai aprender inglês em um ano. É impossível precisar quanto tempo cada pessoa leva em seu aprendizado. Em um ano, você pode chegar a determinados conhecimentos, de estrutura, mas o que vai usar daquilo depende de você. É importante a pessoa reconhecer suas limitações e seus pendores e aliar o menos possível esse processo ao sofrimento. Só se aprende numa situação em que estamos relaxados. O aprendizado deve estar associado a coisas que gerem interesse genuíno no aluno. Há uma angústia: o inglês se transformou em sinônimo de oportunidade profissional.

Amanhã- Qual a linha teórica adequada para aprender de fato?
Cristina - É aquela linha que se aproxima mais da experiência com o aprendizado que temos com a língua materna. Aquela que faz com que eu fale muito, escute muito, use muito a língua, para que me familiarize. Simula a aprendizagem que a gente tem com a língua materna em regime extensivo, faz a pessoa entrar em contato de forma simulada, usando muitos exemplos em regime de repetição. É o chamado "método direto". Mas algumas pessoas podem não se adaptar. O que eu defendo é o seguinte: usar o máximo possível da capacidade de raciocínio. Não é exatamente isso que vai fazer com que você fale, mas, com certeza, a capacidade de raciocínio desmistifica a aprendizagem, tira do escuro aquela grande área capaz de gerar temores e medos.

Amanhã- Por que o estudo do inglês foi mistificado?
Cristina - Porque a exigência de aprender aumentou, e os processos ficaram muito parecidos. Tenho hoje as mesmas estruturas de cursos, as mesmas ações, uma grande fórmula que é usar a cultura de origem como espelho, como ambiente nos livros-textos. Mas a necessidade de aprender se espalhou enormemente. Em geral, pessoas adultas descobrem que precisam disso, e já não têm tempo, o que faz com que a urgência aumente e esse mito se nutra, com pouca disponibilidade até psicológica de se colocar numa posição de aprendiz. Isso alimenta a máquina de desistir, que alimenta o mito da dificuldade. É curiosa a relação das pessoas com a língua. Dizem até que não sabem português. Acho uma graça: elas falam a língua e dizem que não sabem. Tem algo errado. Todas as pessoas que falam português sabem português. O grande trabalho é o de juntar esses dois pólos esquizofrenicamente separados. Eu sei a minha língua materna, posso até não falar como a gramática manda, mas me comunico claramente. E potencialmente posso saber qualquer outra.

Amanhã- Todo o mundo pode aprender inglês?
Cristina - Todas as pessoas podem aprender se tiverem claro que vão estar trocando o ponto de vista da realidade. Uma língua é um ponto de vista da realidade, uma forma de ver as coisas. É outra forma de organizar a comunicação, flexibilizar a visão de mundo. Então, todas as pessoas podem aprender inglês como todas as pessoas podem aquilo que quiserem, desde que estejam motivadas.
( Guilherme Diefenthaeler)

3 comentários:

Anônimo disse...

Ei Dani!!
Nossa, esse artigo é muito bom!
Adorei as opiniões da Cristina Schmacher.
É muito importante na nossa área q a gente fique bem tranquila para aproveitarmos ao máximo nossos conhecimentos prévios no idioma em questão. E esse artigo mostra q é muito mais importante a intenção, a personalidade e força de vontade da pessoa, do q o "diploma" de um curso de idioma estrangeiro.
Gostei msm!
Parabéns pelo Blog q tá ótimo!!
Bjus da caloura q mais te apoia!! Hahahahaha

Anônimo disse...

Aaahh!
Outra coisa...
Apesar de eu nem sempre comentar aqui, eu to sempre lendo os posts, tá?
Amei os de marketing pessoal, inteligência emocional, "Esse curso tem futuro?", e sobre os intercâmbios no Canadá tbm, pq eu pretendo fazer o meu ainda esse ano, e to pesquisando a respeito...
São todos ótimos e de grande utilidade.
Bjãoooo!!!

Anônimo disse...

Muitooo obrigada Aninha!!!
Estou realmente mto feliz com a repercusão do Blog... mtas pessoas tem acessado, apesar dos poucos comentários. tenho recebido mtos scraps elogiando e me incentivando... mto obrigada a todos!!! não esperava tanto carinho, vindo de todo Brasil... Goiás, Sao Paulo, Santa Catarina, Viçosa.... mtooooo obrigada mais uma vez!!
=)