quarta-feira, setembro 26, 2007

Há Saída para o Estresse.


É possível alcançar a felicidade perene? O psicólogo Mihály Csíkszentmihályi, professor da Claremont University, diz que sim. Mas, para isso, é preciso atitude. Um caminho é domar a ambição, casar habilidades com interesses e se dedicar mais ao que você realmente gosta. Simples assim.


Um número crescente de executivos aprende a pronunciar o nome do psicólogo Mihály Csíkszentmihályi. Filho de húngaros, nascido na Itália e radicado nos Estados Unidos, ele é uma das autoridades mundiais na pesquisa da "psicologia positiva", corrente que estuda qualidades humanas, como otimismo, criatividade, motivação interna e responsabilidade, e faz sucesso em grandes empresas, como HP e Merryl-Lynch.


Nesta entrevista, concedida por telefone de seu escritório na Claremont Graduate University - onde dá aulas na Drucker School e dirige o Centro de Pesquisa de Qualidade de Vida -, o psicólogo conta como os executivos podem buscar uma felicidade perene. Em tempo: a pronúncia de seu sobrenome é txic-zent-mirráii.


Uma característica comum a quase todos os executivos é a ambição. Ela contribui para o aumento do estresse? Sim. Na nossa sociedade, se você pergunta às pessoas quanto elas gostariam de ganhar para se sentir felizes, todas respondem que gostariam de ganhar de 30% a 50% mais do que ganham. Não importa se recebem US$ 20 mil ou US$ 200 mil por ano, elas sempre querem mais. Existem algumas pesquisas que mostram claramente essa escalada nas expectativas. E quanto mais elevado é o salário ou o cargo, além da autoridade, a competição se torna cada vez maior, porque há o anseio de seguir adiante, subir sempre mais alto. E, quanto mais alto um executivo está, menos ar ele tem para respirar. Existem menos oportunidades. Esse tipo de ambição, de sempre querer melhorar a sua situação, pode levar a um colapso nervoso. A questão é: quanto de ambição é bom? Ninguém sabe a resposta.

Mas nas empresas, com freqüência, os mais ambiciosos são os mais valorizados. Porém, ao fazer isso, as empresas estão preparando as pessoas para se tornar cada vez mais estressadas. Isso é bom para a companhia? Talvez. Sucede que executivos muito estressados têm suas habilidades reduzidas. Há alternativa para esse cenário? A mudança pode vir de hierarquias mais horizontais, nas quais o trabalho seja distribuído de maneira mais homogênea, aliviando o estresse dos executivos. Algumas organizações parecem conseguir distribuir melhor a autoridade e sobreviver bem no mercado. A hierarquia mais horizontal mostra ao funcionário que ele pode seguir adiante, mas sem precisar ser tão competitivo. Ele não vai ter de lutar para ser o vice-presidente de operações da companhia inteira, porque não haverá esse cargo. Existem empresas bem-sucedidas que não precisam desse trabalho tão estressante. Se a companhia é realmente inovadora e flexível em suas operações, ela pode ser bem-sucedida sem ter de arruinar a vida de seus executivos.

O senhor poderia citar um exemplo? A Patagônia (fabricante de roupas e artigos esportivos baseada em Ventura, na Califórnia). Mas há outras, como a empresa de investimentos Edward Jones, o Gallup e muitas mais. Na Patagonia, você entra no hall da sede e vê várias pranchas de surfe apoiadas na parede. Todos os funcionários que gostam de surfar levam suas pranchas e um sino começa a tocar no prédio quando as ondas na praia próxima ultrapassam 1 metro. Todos podem pegar sua prancha e ir para a praia. Ninguém diz "não, não, estamos muito ocupados". Você simplesmente sai, pega suas ondas e, depois, volta para trabalhar um pouco mais. Os executivos usam sandálias e camisetas. Há uma atmosfera distendida e, ao mesmo tempo, um trabalho executado de maneira eficiente e focada. Esse tipo de situação de trabalho está se tornando cada vez mais comum - e espero que se torne o padrão.

Enquanto o ambiente corporativo não muda, o que os executivos podem fazer para ficar menos estressados e ter uma vida melhor? É fundamental que a pessoa encontre um trabalho que goste de fazer, que case com suas habilidades e seus interesses, para não ficar envolvido com coisas de que não gosta. Esse é o primeiro passo. Também é desejável ter a escolha de trabalhar numa empresa gerida da maneira que você gosta.

E quem não conseguir um cargo assim? Pode-se falar com o superior ou com colegas, de modo a engajá-los numa discussão civilizada de como está a situação e o que pode ser feito para melhorá-la. É possível fazer isso. As pessoas é que têm medo de tomar a iniciativa. Ou estão tão irritadas que não se comunicam.

E, fora do escritório, o que altos profissionais podem fazer para melhorar o bem-estar? Um executivo deve tentar descobrir as coisas de que realmente gosta e as que o deixam deprimido ou estressado. Ao final do dia, pode anotar num diário tudo o que fez e dar notas a cada coisa. É incrível como, depois de uma semana fazendo isso, se encontram padrões, é possível identificar onde há perda de tempo, perda de energia. A partir daí, deve-se tentar se dedicar mais ao que se gosta e menos ao que não se gosta. A maioria das pessoas não faz essa avaliação e acha que tudo faz parte da vida, que é inevitável.

Qual a importância de atividades não vinculadas ao trabalho? Próximos do topo ou da aposentadoria, muitos se sentem desiludidos, devastados. Então, é crucial ter duas ou três paixões, atividades como música, filosofia, viagens, ou simplesmente ajudar outras pessoas.

Que autores trazem boas reflexões sobre felicidade? Fui muito influenciado por Teilhard de Chardin, o jesuíta francês que escreveu O Fenômeno Humano. Hannah Arendt também influenciou minha maneira de pensar, com A Condição Humana. Marco Aurélio idem. Dos mais modernos, há um jovem psicólogo chamado Jonathan Haidt.
O que há de interessante em Jonathan Haidt? A pesquisa de Haidt trata do que ele chama de "elevação", o oposto de depressão. Um sentimento como se o coração estivesse se expandindo, o que é uma metáfora para dizer que o coração está ficando "grande". E, ao que tudo indica, esse sentimento produz realmente um efeito fisiológico, o sistema circulatório funciona melhor. Normalmente, esse sentimento acontece quando se ajuda alguém, ou quando se faz algo que realmente dá certo no trabalho. Um sentimento daqueles que nos permite dizer "uau!" e o peito se expande. O interessante é que esse estudo foca não apenas o estresse ou as experiências ruins, mas aquelas que são realmente positivas. Haidt é uma das pessoas que buscam ver como gerar esse tipo de experiência positiva nas pessoas. Meu trabalho também vai nessa linha.


(por Eduardo Ferraz)

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